PETIT MORT

Quando a mente se esquece e deixa o corpo guiar

Quando nada importa, só o clima,  o lugar

Quando os sentidos se alteram demais

A audição abaixa, a visão se fecha

Só comanda o tato e um pouquinho de olfato

É o final do amor com certeza ou com sorte

É o contrário da dor

Uma pequena morte

SENSUALIDADE

A marquinha do biquini que sugere muito mais
A boca pintada que sensação traz
O vestido que cola e marca o corpo perfeito
O perfume, o ciúme que sinto desse jeito
As mãos delicadas mas com tanta habilidade
Ora com pressa ou suavidade
Pra me tirar do sério
Os olhos acesos que sugerem mistério
O salto que completa o visual perfeito
Os cabelos que emolduram o teu rosto, teus trejeitos
A língua que lambe o lábio e o sal da taça
Desligada,em outro mundo, mas cheia de graça
A música que gostas e colocas para eu ouvir
O clima perfeito de onde não se pode sair
Sem sentir teus encantos,sem provar teu sabor
Te sentir sem fronteiras, me envolver em teu calor

VERDADES

O que ontem era crime, era feio e era castigo
Hoje em dia é normal,é aceito é permitido
O que antes me fazia feliz demais
Hoje nem me emociona, ficou pra trás
O amor que eu pensava que nunca ia acabar
Que era forte, era loucura e que podia me matar
Hoje é só lembrança de algo bom que passou
Não amo mais dauqele jeito,mas esqueci a dor
E as coisas que eu dizia que nunca iria fazer
Hoje me pego arquitetando que pecados cometer

LÁBIO TRÊMULO

Meu coração disparou

Minha face tremeu

Agora era somente dor

Um inesperado adeus

Mas a mágoa era tanta

Que eu não conseguia fingir

No olho mais raiva que lágrima

Nos braços pouca força pra agredir

Só o lábio trêmulo e a respiração cortada

Antes de partir

RIO DE SAUDADES

Já foram amigos, já foram parentes

Mas triste fiquei, sozinha e carente

Perdi as pessoas em quem confiar

Agora só o analista pode me escutar

Quem fica aqui mais tempo, sozinho mais fica

Muita coisa perde, a alegria, perde o significado, fica sem saída

Tentar procurar algo em que se agarrar

Crença religiosa,  ocupação nova, sei lá

Melhor pouco pensar

Um dia talvez surpresa teremos

E todos nos encontraremos por lá

LENDA PESSOAL

O cabelo balançava ao vento
O vestido voava um pouco
A alça caía
O tempo era agosto
As folhas no chão
E a vida também
Não acreditava mais em proteção, nem em ajuda de ninguém
Quanto tempo demorou
Pra despertar?
Que aqui estamos sós, cada um de nós, mesmo em meio a multidão
Que a maior tarefa que há é levar a propria vida, vencer as proprias barreiras
Conviver com a propria solidão
Que o outro não completa, só ajuda
E desperta um pouco de emoção
Mas a luta pessoal é travada todo dia
Um esforço de corpo e mente
Ora prazer, ora agonia
Pra fazer da prórpia vida
Uma estória viável
É um desafio constante
Uma tela que se deve ter o direito de pintar como quiser
Seja ela louvável ou condenável

TENTAÇÃO

Você me vira a cabeça

Me deixa descompassada

Você é só beleza, pedaço de céu azul

No olho que diz muito, às vezes nada

É raio dourado de luz

No cabelo loiro longo

Que não te deixa menos másculo

É escultura, é sonho

É cheiro especial na pele

É boca bem desenhada

È toque que leva à loucura

Emoção desenfreada

Também fruto proibido

É amor calado e escondido

Mas quando você me seduz

É chama que a alma conduz

A lugar precioso e atemporal

É meu bem, é paixão, é meu mal

MIGRAÇÕES

Mudei de emprego, de apartamento
Mudei de país, mas não sumiu tormento
Mudei o guarda roupa,mas tudo ficou igual
Tentei mudar, mas não certo, a opção sexual
Mudei a hora do sono e os hábitos alimentares
Mas o principal não muda, essas verdades, esses lugares
Desisti então de ver televisão
Mas ficar alheia ao mundo é ficar sem direção
Busco agora fulga de duas horas por dia
Pra sair do pesado, pra sair da verdade, pra sair da agonia

INSTABILIDADE

O sangue que corre em minhas veias

O coração descompassado

A mente que divaga, a mente que vagueia

A dificuldade de pisar no chão

Vontade de todo dia fugir, criar nova situação

Talvez dinheiro ajudasse um pouco

Mas às vezes nem ele resolve de todo

É preciso clima, companhia pra sair na contramão

O olhar que às vezes pede tanto, tanto espera de nós

Carinho, conforto, esquece

Que todos somos emoção veloz

Que tudo muda sempre toda hora

Nada fica no lugar

Como exigir de alguém compromisso

Que nunca possa acabar?

GOURMET

Experimentei sushi em teu corpo
Noutro dia com vinho dos deuses te banhei e bebi
Chocolates e  cerejasem tua cama no café da manhã
Para ti com capricho cozinhei
Você é meu ingrediente preferido
O toque especial que dá todo sentido

ENTEDIADA

Não queria ler mais coisa alguma

Não queria ouvir piada nenhuma

As mesmas pessoas

Os mesmos lugares

Com seus pares, seus carros, suas vestes, seus lares

Queria ouvir uma música boa

A única saída, a única coisa

Transportar a alma pra outro lugar

Conhecer alguém que valesse escutar

Fazer alguma coisa nunca antes feita

Não pretendia ser santa, não era perfeita

Se pudesse pegaria o primeiro avião

Ia pra bem longe sem direção

Tem horas que a vida tem que mudar

Senão o tédio consome e só falta matar

RITUAL PRA DORMIR

Queria  te ver pelo espelho
Tirando a roupa
Criando desejo
Deixando as peças de roupas no chão
Entrando no chuveiro ,molhando o longo cabelo
Fazendo um cheiro gosto gostoso subir
Queria te ver se preparando pra dormir
Passando um pouco de sansarra no corpo
E deitando sem roupa, me deixando louco
Coberta apenas pelo cetim
Meia luz no quarto,música no radio
Queria nessa hora você só pra mim

MEU VÍCIO

Você me impede de pensar direito
Só vejo desejo não vejo defeito
Você sempre chega sem hora marcada
Me toca e me ama,me deixa inebriada
Muito tempo sem você não é coisa boa
Me irrito,descompasso,sou outra pessoa
Já fui te buscar em lugar bem distante
Te trouxe pra mim com insistência e meu sangue
Meu sangue fervia tendo você de novo
Você é meu vício, minha paixão,meu consolo

PERTO DO OCRE, DISTANTE DE VOCÊ

Num quarto de outro continente

Outro país bem diferente

Cor ocre pelo quarto

E pufes coloridos

Cama com véu, mosqueteiro

Máscaras de madeira na parede

Vasos com flores, vasos com verde

E eu ali ,com fome de você e com sede

VIOLETA TRISTE

Ela com seu vestido roxinho

Sentada na terra, com seis aninhos

Loirinha, brincando com o balde e a pá

Mas sempre pensando: -Cadê o Papá?

Olhava pra cima porque lhe disseram que ele estaria lá

Mas no céu só o azul e nuvens é que há

Cavava mais terra, jogava no balde, até se cansar

De noite não tinha beijinho, estorinha

Chocolate, carinho, do seu papá

Também lhe disseram que um dia ela ia

Assim como todos revê-lo em outro lugar

SONS

O som da rua, barulho, me faz tão mal

Liquidificador também é igual

Tantos ruídos desagradáveis

E telefones desconfortáveis

Queria por algum tempo só poder ouvir

Palmeiras a balançar, violinos que fazem sorrir

A tua voz tranqüila e agradável

Uma orquestra inteira, som louvável

Queria dar à audição somente prazer

Mas é impossível viver com alívio

Somente querer

MALATA

Era a fraqueza, eram as dores

Muitos remédios e dissabores

Opiniões e palpites mil

Era sofrer como nunca se viu

O corpo que antes parecia tão forte

É um templo de dor, é uma quase morte

Rezas faziam, amigos visitavam

Médicos iam e vinham, mas não concordavam

Restava só a espera, de uma cura que regenera

Ou de uma saída mais forte